Quarta-feira, 14 de Dezembro de 2016

O meu artigo de Dezembro no Praça Alta

Depois de mais um interregno maior do que gostaria, aqui vai o artigo que escrevi este mês para o nosso jornal:

 

Cuba, um sonho perigoso

Então, vamos lá por partes. Fidel Castro morreu, para contentamento e festança de muita gente, a começar pelos gusanos de Miami que agradecem agora às leis da natureza humana o que a CIA não conseguiu em mais de 600 tentativas de eliminação física do líder cubano, que começaram, como é sabido, com o fracassado desembarque dos porcos na baía dos ditos.

Fidel e a sua gesta preencheram o imaginário de milhões de jovens por esse mundo fora, serviram de exemplo e refrigério à luta de muitos povos oprimidos. Fidel foi carne e osso, foi ícone e foi lenda.

Muitos daqueles jovens que o endeusaram um dia, andam agora num despique tentando dizer de Fidel pior do que Maomé disse do toucinho, como todo o bom filho-família que nos devaneios e irreverências da longínqua juventude foi um diletante soissantehuitard, em tirocínio para mais altos e rentáveis voos nas empresas do papá. Ou, quiçá, andou na Lisboa dos setenta, a assaltar embaixadas e saquear o seu mobiliário para acabar, anos volvidos e ideais reciclados, num gabinete envidraçado de um vigésimo andar para a West Street de Manhattan, como presidente não executivo do maior Banco saqueador do Universo.

Mas já me estou a afastar do meu propósito ao iniciar este escrito. É meu intuito reflectir sobre algo que me intrigou nestes dias de luto oficial em Cuba. Foi um fartar vilanagem, foram centenas (milhares?) os artigos, os directos, os comentários televisivos e radiofónicos, os tweets, os posts, os comentários no facebook, etc., etc., que glosaram o papel de Cuba e de Fidel Castro na geopolítica, no imaginário, no passado e no futuro da Humanidade.

Ora, foi essa avalanche, menos noticiosa que opinadora, que me levou a escrever sobre isso. O que terá Cuba para despertar ódios tão violentos e declarações tão viperinas nos habitualmente fleumáticos opinion makers? O que terá Fidel e Cuba para que os seus inimigos sempre bem colocados nos órgãos de manipulação social lhes dediquem horas e horas, páginas e páginas das suas reportagens e transmissões?

Não será estranho que o que se passa numa pequena ilha, habitada por escassos 11 milhões de habitantes esteja constantemente nas parangonas dos jornais, seja constantemente esmiuçado, monitorizado, criticado? Para não nos afastarmos muito da região, não seria mais lógico, atendendo às sempre referidas preocupações sociais dos analistas, eles virarem as atenções para países como o Haiti, República Dominicana ou até o México?

Países com falta de tudo o que é básico, com indicadores do fundo da escala, em que a Democracia é uma miragem, onde grassam a corrupção e a violência, merecem dos nossos media um olímpico esquecimento, quando muito um olhar distraído.

Não vou referir os imensos aspectos em que Cuba está à frente de países ditos desenvolvidos. Quem romper o cerco mediático e o silêncio informativo (sobre as qualidades…) e se informar minimamente sobre a realidade cubana, sabe como esse país ultrapassa muitos países ocidentais em vários indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano, todos os anos publicado pela ONU.

Então porquê tanta atenção a Cuba? Porque é que tantos se alvoroçam a demonstrar a falta de Democracia, o desrespeito pelos Direitos Humanos, realidades bem mais visíveis em países vizinhos, mas aí menos incómodas?

O quem tem Cuba, afinal? Que fascínio exerce sobre apoiantes e que obsessão cria nos detractores?

Não há respostas simples sempre que se trate de realidades sociais. O comportamento humano em sociedade é das coisas mais complexas de analisar. Porém sempre se podem fazer tentativas, aproximações, e chegar, nem que seja só um bocadinho, mais perto da compreensão das coisas.

A Revolução Cubana provocou muitos sonhos, despertou a Utopia, entusiasmou os que acham possível um Mundo melhor e mais fraterno. Por isso mesmo, os poderosos, os que vivem da exploração do seu semelhante, os que controlam a Informação à escala mundial, por uma vez assustados, não podiam permitir que um pequeno país dissesse ao Mundo que, afinal, há uma alternativa. Que é possível cada um viver sem ver o seu trabalho e a sua vida espoliados e desprezados.

Não foram apenas os apoiantes de primeira hora da Revolução Cubana que imaginaram ser possível construir uma sociedade mais justa, livre da exploração de um homem por outro homem. Também os que vivem de explorar o outro e as riquezas, estejam onde estiverem, julgaram estar ali o embrião de algo novo, entusiasmante para os explorados, assustador para os exploradores. Pensaram eles, e bem, que se aquilo, ali em Cuba, desse certo, não faltaria o efeito dominó derrubando as oligarquias e fazendo a Revolução. Temeram e tremeram!

Por tudo isso, eles, com os EUA à cabeça, não estavam dispostos a permitir que o mau exemplo florescesse. Por isso as centenas de tentativas, levadas a cabo pela CIA, para assassinar Fidel, o rosto da Revolução e da Esperança. Por isso, as invasões, os boicotes, o Bloqueio, as pragas para inutilizar a produção de cana de açúcar, as pestes lançadas para dizimar a pecuária, o financiamento de opositores. Por isso também, o ódio que os papagaios do imperialismo norte-americano bolçam em comentários e reportagens.

Um sonho pode ser muito poderoso e os senhores do Mundo não gostam que os oprimidos sonhem. Há que demonstrar que a dura e feia realidade do Capitalismo não tem saída nem alternativa. Para sustos bem bastou o de Outubro de 17!

publicado por Aristides às 13:02
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